quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cutrale: Grilagem de terras, conflito agrário e violações econômicas


Nas últimas semanas temos assistido e lido sobre a ocupação do MST de terras da "Cutrale" e a derrubada de pés de laranjas plantados pela empresa nessas terras. Fato ignorado na cobertura jornalístcia é que a empresa Cutrale tem um péssimo histórico e esteve envolvida em vários problemas. As terras em questão pertecem a União e foram griladas, isto é ilegalmente tomadas , e há vários processos na justiça com relação a sua retomada. Além disto a empresa já havia se envolvido anteriormente em conflitos com o MST e também esta envolvido em investigações sobre crimes econômicos.

Transnacional exerce monopólio no mercado brasileiro

Cutrale é alvo de cinco processos no Cade e seus proprietários são réus em processos por formação de cartel e posse ilegal de armas

15/10/2009


Eduardo Sales de Lima,da Redação A Cutrale mantém um dos maiores monopólios alimentícios do mundo. Detém cerca de 30% do mercado global de suco de laranja e possui clientes como Parmalat, Nestlé e Coca-Cola. Em relação à última empresa, a Cutrale, segundo revela o geógrafo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Ariovaldo Umbelino, é sua fornecedora exclusiva. O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) lembra, em boletim, que a empresa é alvo de cinco processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), por liderar um cartel formado por quatro empresas que dominam o setor. As outras três seriam a Citrosuco, do grupo holandês Fischer; a Coinbra-Frutesp, do grupo francês Louis Dreyfus, e a Citrovita, do grupo Votorantim. Trata-se das maiores produtoras de suco do país e respondem por 90% da produção nacional. Entretanto, a Cutrale, sozinha, respondepor mais de 60%.
Essas quatro indústrias detêm mais de 50 milhões de pés de laranja e, como destaca Dr. Rosinha, impõem seus preços aos demais produtores. O monopólio, além de padronizar os preços, não permite a geração de empregos. Atualmente, apesar de existirem plantações de laranja por todo o Brasil, "restaram somente os grandes e médios produtores", e "o número de trabalhadores no setor é reduzidíssimo porque as plantas são altamente tecnificadas", revela Umbelino. Fundada há 40 anos, a Cutrale, conforme explica o geógrafo, sempre agiu de modo a verticalizar a produção. "Ela desenvolveu o processo de monopólio dentro de seu histórico de produção de suco, comprando unidades pequenas e as fechando", conta. Umbelino lembra que, enquanto havia competição, as indústrias sucocítricas negociavam com seus fornecedores por intermédio do governo estadual.
A Cutrale foi ganhando força e provocou a criação de associações de citricultores que a enfrentavam. As organizações racharam e a empresa conseguiu enfraquecer as entidades menores. Atualmente, segundo o geógrafo, a Cutrale planta 10% de sua produção como forma de garantir sua produção de sucos, no caso de haver possíveis problemas com o fornecimento de laranjas. Os donos da empresa, que teriam fortuna acumulada equivalente a 5 bilhões de dólares, segundo informações do deputado Dr. Rosinha, são réus em processos por crime de formação de cartel e posse ilegal de armas de fogo. A Cutrale também já foi autuada por causar diversos impactos ambientais.

MST X CUTRALE

Por Nilson Fernandes

Nassif, o INCRA informa que a fazenda Santo Henrique pertence a União por integrar o antigo Núcleo Colonial Monção e sua retomada aguarda decisão juducial. O Núcleo Monção tem origem em 1909. Foi constituído por um grupo de fazendas, parte comprada pela União e parte recebida em pagamento de dívidas da Companhia de colonização São Paulo e Paraná. No total estas fazendas somavam aproximadamente 40 mil hectares, abrangendo partes dos municípios de Agudos, Lençóis Paulista, Borebi, Iaras e Águas de Santa Bárbara.
Nassif, o INCRA tem mais de cincoenta ações contra a CUTRALE no município de Ourinhos. O Juiz DA 2ª Vara de Lençóis Paulista ao conceder a reintegração de posse baseu-se entre outros documentos em um ofício do Comandante da PM de Bauru. O MST disse que não saí.de terras griladas pela CUTRALE.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Bertin envolvida em tentativa de genocídio?

Nesta segunda-feira empresas e ONGs assinaram um compromisso sobre pecuária sustentável. A idéia é que as empresas promovam uma série de mudanças nas suas práticas para garantir que seus produtos não contribuam com a destruição da floresta amazônica e o trabalho escravo. Dentre as empresas que participarão deste compromisso estão as gigantes da pecuária Marfrig, Bertin e JBS-Friboi.

A idéia por trás do compromisso é boa, remete a estas empresas assumirem responsabilidade por sua cadeia de suprimentos. A iniciativa é conseqüência do relatório “A farra do boi” publicado pelo Greenpeace e das ações tomadas pelo Ministério Público Federal do Pará como conseqüência do relatório.

Porém as coisas podem não avançar tão bem como se espera. Os gigantes da pecuária estão entre as empresas que mais recebem denúncias de abusos ambientais e sociais. Neste sentido salta aos olhos a última notícia divulgada com relação à Bertin e a situação dos índios Guarani-Kaiowá em Dourados, no estado do Mato Grosso do Sul.

A notícia surpreende pela contundência das declarações do promotor do Ministério Público, mas na verdade casos em que grandes empresas do agronegócio contratam empresas de segurança (na verdade são milícias disfarçadas de empresas) para atacar movimentos sociais são infelizmente mais comuns do que se espera. Na barra lateral do Blog você encontra um link para o relatório da Via Campesina: “O caso Syngenta – Violação de Direitos Humanos no Brasil” (em inglês). Que relata os ataques armados feitos pela empresa de segurança NF contratada pela Syngenta.


01/10/2009

Ataque a indígenas: usina e frigorífico podem ser denunciados

Ação violenta contra acampamento indígena teve, segundo relatório da Funai, participação de funcionários da Usina São Fernando, parceria do Bertin e da Agropecuária JB. MPF poderá fazer denúncia por tentativa de genocídio

Por Verena Glass

Um acampamento de índios do povo Guarani-Kaiowá na região de Curral do Arame, em Dourados (MS), foi atacado violentamente na primeira hora de 18 de setembro. Na avaliação do Ministério Público Federal (MPF) do Mato Grosso do Sul, a ocorrência pode ser classificada como tentativa de genocídio. De acordo com relatos, os pertences e o barraco dos acampados foram incendiados e o indígena Eugênio Gonçalves, de 62 anos, ferido à bala.

Segundo documentos da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do MPF, o ataque ocorreu por volta da 1h da madrugada, quando o grupo de índios dormia no acampamento improvisado construído no dia anterior na altura do km 10 da Rodovia BR-463, ao lado da Fazenda Serrana. A propriedade foi arrendada para o plantio de cana-de-açúcar pela Usina São Fernando. A usina, por sua vez, é um empreendimento da Agropecuária JB (Grupo Bumlai) com o Grupo Bertin, um dos maiores frigoríficos da América Latina (leia mais abaixo).

Analista pericial do MPF que esteve no local logo após o ocorrido foi informado que cerca de oito pessoas, algumas delas armadas, teriam participado da ação. "A movimentação do grupo [de indígenas no dia 17] deve ter atraído a atenção do proprietário da fazenda [Serrana] ou de quem a arrenda para fins de plantio de cana. Os índios narram que já era madrugada, cerca de uma hora da manhã, quando começaram os tiros. No momento da investida, `foi uma correria`. Mães agarravam seus filhos pequenos e tentavam fugir. Duas pessoas saíram feridas (...). O barraco construído por eles foi completamente queimado e as paliçadas erguidas para a construção de mais habitações arrancadas e/ou queimadas", discorre o relatório do MPF do MS.

Nos relatórios da Funai e do MPF, funcionários da Usina São Fernando e da empresa de segurança Gaspem são apontados como responsáveis pelo ataque. No documento da Funai, consta depoimento que afirma que "eles chegaram de repente com lanterna na mão, não falaram nada, foram rasgando as lonas com facão e colocaram fogo no barraco. Quem atirou foi o Paulinho, funcionário da usina São Fernando, e o Gerente, [que] chama Roberto (...)". No mesmo relato colhido pela Funai, o sexagenário Eugenio conta que foi baleado na perna, caiu e recebeu uma coronhada no braço.


Ao MPF, os indígenas também apontaram os seguranças da Gaspem como principais responsáveis. "A comunidade estima que, ao todo, naquela noite, compareceram ao local umas 20 pessoas. Frisaram que, na fazenda Serrana, enquanto ocorria a desocupação, um carro da firma dava cobertura". Para o analista do MPF, um funcionário da Gaspem explicou que a empresa havia sido contratada para guardar materiais da usina.

Para o procurador do MPF em Campo Grande (MS), Marco Antonio Delfino, o caso deve ser tratado como tentativa de genocídio - "um grupo armado teve intenção explícita de atacar outro grupo por suas características étnicas, porque são indígenas". As investigações devem ser apressadas e os resultados apresentados em menos de um mês.

"Em relação à empresa de segurança Gaspem, vamos atuar na área cível, criminal e administrativa - responsabilização criminal pelo ataque, indenização por este fato e outros semelhantes relacionados à participação da empresa. Do ponto de vista administrativo, será pedida a cassação do registro da empresa em face das irregularidades", adiciona o procurador federal.

Já a Usina São Fernando - arrendatária da Fazenda Serrana e que, conforme documento da Funai, teve participação por meio de funcionários no ataque - deve ser co-responsabilizada.

No processo, afirma Marco Antonio Delfino, a Gaspem poderá ser denunciada também por outras ações, como a participação no despejo de indígenas kaiowá da Fazenda Campo Belo, na região de Porto Cambira (MS), em 2004, a morte do índio Dorvalino Rocha, 39, em Antonio João (MS), na fronteira com o Paraguai, em 2005, e a morte da índia Xurete Lopes, 70, durante desocupação forçada da fazenda Madama, no município de Amambai (MS), em 2007.

Estréia complicada


Instalada em Dourados (MS) em 2009, a Usina São Fernando é tocada por uma parceria da Agropecuária JB (Grupo Bumlai), especializado em melhoramento genético de gado de corte, e o Grupo Bertin, um dos maiores frigoríficos produtores e exportadores de itens de origem animal das Américas.

Dono da Agropecuária JB, José Carlos Bumlai foi apresentado em 2002 ao então candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva, que gravou ali os programas sobre agronegócio que foram usados na campanha, segundo matéria da revista Dinheiro Rural reproduzida no site da Agropecuária JB. De acordo com a matéria, Lula teria assumido, nos vídeos, "um compromisso em defesa da propriedade e da produção, afugentando o fantasma de uma reforma agrária radical, que sempre pesou sobre os ombros do PT".

O Grupo Bertin, que está em processo de união com o frigorífico JBS Friboi, maior empresa do setor no mundo, tem 27,5% de suas ações controladas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 2008, a São Fernando, primeiro empreendimento do Bertin na produção de etanol, foi beneficiada com um empréstimo de R$ 402 milhões do BNDES.

Em junho deste ano, a usina aderiu ao Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar, acordo firmado entre o governo federal e os setores produtivo e sindical. A iniciativa visa propor melhorias aos cortadores de cana para melhorar a aceitação do etanol brasileiro como combustível "limpo" no mercado internacional, mas acabou excluindo questões básicas como a alimentação. Para completar, o Compromisso Nacional abriga três usinas que fazm parte da "lista suja" do trabalho escravo.

Procurado para comentar o ataque aos indígenas, o Bertin, através de sua assessoria de imprensa, afirmou que "os seguranças da usina [São Fernando] não andam armados e não se envolveram em nenhum conflito. Não temos nenhuma notícia em relação ao fato e estamos apurando a informação. A Usina São Fernando não é proprietária de nenhuma terra na região".

Já o diretor-superintendente da Usina São Fernando, Paulo César Escobar, confirmou que "existe um contrato de parceria agrícola entre a Usina e a Fazenda Serrana, ou seja, a usina planta cana na área de fazenda e divide os frutos com o proprietário". Ele teria sido informado que "o conflito não ocorreu na área de plantio de cana (onde ocorre a parceria com a Usina São Fernando), mas em outra parte da fazenda", o que contraria o parecer emitido pela Funai. O diretor também negou qualquer relação com a Gaspem, que teria sido contratada pelo proprietário da Fazenda Serrana. A Gaspem foi procurada pela reportagem, mas não houve quem se manifestasse pela empresa.

Histórico de conflitos

Há seis anos, o grupo Guarani-Kaiowá do Curral de Arame está acampado às margens da BR-463, há aproximadamente 7 km de Dourados. Segundo a Funai, por duas vezes o grupo tentou voltar aos territórios originários, ocupado atualmente por grandes fazendeiros. Em junho de 2008, houve uma ocupação de um pequeno pedaço da Fazenda Serrana, próximo à mata da Reserva Legal da área, onde os indígenas fizeram pequenas roças.

De acordo com o MPF, naquela ocupação a estratégia da fazenda foi "sitiar os índios através dos serviços da empresa de segurança Gaspem, que impedia que a Funasa [Fundação Nacional de Saúde] e a Funai promovessem atendimento e assistência médica. Naquele tempo, os índios só puderam ser visitados pelos órgãos indigenistas graças à intervenção da Polícia Federal".

Com a reintegração de posse, os índios foram obrigados a ocupar a outra margem da BR-463, por causa de obras de duplicação da rodovia. Cerca de vinte pessoas formaram o Acampamento Apyka’y, onde construíram seis barracos e passaram a viver na dependência de cestas básicas da Funai.

FONTE: Repórter Brasil

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ranking das melhores e PIORES empresas americanas com relação ao Meio Ambiente


Tons de Verde


Por Phil Matera do DirtyDiggersDigest


*esta é uma tradução livre do inglês, o link para o original esta ao final




Michael Moore talvez esteja em todos os programas de entrevistas nos próximos dias promovendo seu novo filme sobre os maus do capitalismo, mas em outro lugar na mídia tradicional a celebração das grandes empresas continua aceleradamente. Especialmente com relação ao meio ambiente, nós somos levados a acreditar que grandes corporações são a vanguarda do pensamento esclarecido.


Esta é a mensagem implícita da capa do último número da revista Newsweek, a qual esta recheada com folhas para promover seu número sobre “As grandes empresas mais verdes da América: um ranking exclusivo - The Greenest Big Companies in America: An Exclusive Ranking”[Nota do tradutor: América aqui refere-se aos EUA]. A lista em si, entretanto, tem mais validade que os exercícios deste tipo usualmente feitos, que tendem a valorizar demais o “greenwash” corporativo.


O ranking da Newsweek é baseado no que parece ser dados sólidos da KLD Research & Analytics, que produziu o bem conceituado (mas caro) plataforma SOCRATES de investimento social, junto com a Trucost e a CorporateRegister.com. Cada companhia no S&P 500 é ranqueada nos seus impactos ambientais, suas políticas ambientais, e sua reputação dentre profissionais do meio da responsabilidade social corporativa, acadêmicos e outros especialistas ambientais. A avaliação ainda leva em conta as infrações regulatórias, processos judiciais e impactos comunitários das companhias.


De maneira não surpreendente, aquelas no topo da lista são as empresas de alta tecnologia – como HP (1, Dell (2), Intel (4), IBM (5) e Cisco System (12) – as quais nunca tiveram os mesmos problemas das antiquadas industrias de linha, e que em muitos casos se tornaram “mais limpas” por terceirizar suas atividades de produção para outros países. Dell, em particular, está no processo de se tornar uma empresa vazia vendendo suas fábricas.


Mais interessante é que o suposto pioneiro da sustentabilidade Wal-Mart ficou colocado em 59º, atrás de antiquadas indústrias de linha como a United Technologies e a Owens Corning. A Whole Foods Market, fornecedor de produtos orgânicos encarecidos, esta ainda mais baixo na posição número 67. A gigante de petróleo Chevron, que urge o público a se juntar a ela no seu suposto compromisso com eficiência energética, esta ranqueada no 371º lugar, não muito melhor que a tradicional negadora do aquecimento global a ExxonMobil (em 395).


Já que a lista da Newsweek cobre inteiramente o S&P 500, nós também podemos observar o grupo que provavelmente é o mais interessante de todos, aquelas empresas pior ranqueadas. O mal que estas empresas – especialmente aquelas como a American Electric Power e a Souther Company que possuem muitas usinas de energia que operam a partir de combustíveis fósseis – fazem ao meio ambiente ultrapassa em muito qualquer bem feito por aquelas empresas que estão no topo da lista. Também entre os retardatários estão as gigantes do agronegócio: Monsanto (nº 485), Archer Daniels Midland (nº 486), Bunge (nº 493) e ConAgra Foods (n º497).


Mas uma menção especial deve ser dada para a absolutamente pior de todas as empresas listadas: a gigante da mineração Peabody Energy. Numa escala de 0 a 100, presumivelmente refletindo sua dedicação exclusiva ao carvão, grande destruidor climático, e seu apoio aos grupos que lutam contra a lei de mudanças climáticas no congresso americano.


A Newsweek merece crédito por ter desenvolvido uma avaliação séria do desempenho ambiental corporativo. A versão eletrônica tem uma divertida barra lateral sobre falsidade verdes. Esta revista poderia ter facilmente invertido a ordem da lista e alterado sua manchete para: “Os Maiores Culpados Ambientais da America Corporativa”.



Carrefour racismo, tortura e violação de Direitos Humanos

Homem negro espancado, suspeito de roubar o próprio carro
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Tomado por suspeito de um crime impossível - o roubo do seu próprio carro, um EcoSport da Ford - o funcionário da USP, Januário Alves de Santana, 39 anos, foi submetido a uma sessão de espancamentos com direito a socos, cabeçadas e coronhadas, por cerca de cinco seguranças do Hipermercado Carrefour, numa salinha próxima à entrada da loja da Avenida dos Autonomistas, em Osasco. Enquanto apanhava, a mulher, um filho de cinco anos, a irmã e o cunhado faziam compras.
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A direção do Supermercado, questionada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP, afirma que tudo não passou de uma briga entre clientes.
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O caso aconteceu na sexta-feira (07/08) e está registrado no 5º DP de Osasco. O Boletim de Ocorrência - 4590 - assinado pelo delegado de plantão Arlindo Rodrigues Cardoso, porém, não revela tudo o que aconteceu entre as 22h22 de sexta e as 02h34 de sábado, quando Santana - um baiano há 10 anos em São Paulo e que trabalha como Segurança na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, há oito anos - chegou a Delegacia, depois de ser atendido no Hospital Universitário da USP com o rosto bastante machucado, os dentes quebrados.
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Ainda com fortes dores de cabeça e no ouvido e sangrando pelo nariz, ele procurou a Afropress, junto com a mulher - a também funcionária do Museu de Arte Contemporânea da USP, Maria dos Remédios do Nascimento Santana, 41 anos - para falar sobre as cenas de terror e medo que viveu. "Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus".
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Santana disse pode reconhecer os agressores e também pelo menos um dos policiais militares que atendeu a ocorrência - um PM de sobrenome Pina. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa, que não tem problema", teria comentado Pina, assim que chegou para atender a ocorrência, quando Santana relatou que estava sendo vítima de um mal entendido.
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Depois de colocar em dúvida a sua versão de que era o dono do próprio carro, a Polícia o deixou no estacionamento com a família sem prestar socorro, recomendando que, se quisesse, procurasse a Delegacia para prestar queixa.
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Terror e medo
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"Cheguei, estacionei e, como minha filha de dois anos, dormia no banco de trás, combinei com minha mulher, minha irmã e cunhado, que ficaria enquanto eles faziam compra. Logo em seguida notei movimentação estranha, e vi dois homens saindo depressa, enquanto o alarme de uma moto disparava, e o dono chegava, preocupado. Cheguei a comentar com ele: "acho que queriam levar sua moto". Dito isso, continuei, mas já fora do carro, porque notei movimentação estranha de vários homens, que passaram a rodear, alguns com moto. Achei que eram bandidos que queriam levar a moto de qualquer jeito e passei a prestar a atenção", relata.
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À certa altura, um desses homens - que depois viria a identificar como segurança - se aproximou e sacou a arma. Foi o instinto e o treinamento de segurança, acrescenta, que o fez se proteger atrás de uma pilastra para não ser atingido e, em seguida, sair correndo em zigue-zague, já dentro do supermercado. "Eu não sabia, se era Polícia ou um bandido querendo me acertar", contou.
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Os dois entraram em luta corporal, enquanto as pessoas assustadas buscavam a saída. "Na minha mente, falei: meu Deus. Vou morrer agora. Eu vi essa cena várias vezes. E pedia a Deus que ele gritasse Polícia ou dissesse é um assalto. Ele não desistia de me perseguir. Nós caímos no chão, ele com um revólver cano longo. Meu medo era perder a mão dele e ele me acertar.
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Enquanto isso, a mulher, a irmã, Luzia, o cunhado José Carlos, e o filho Samuel de cinco anos, faziam compras sem nada saber. "Diziam que era uma assalto", acrescenta Maria dos Remédios.
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Segundo Januário, enquanto estava caído, tentando evitar que o homem ficasse em condições de acertar sua cabeça, viu que pessoas se aproximavam. "Eu podia ver os pés de várias pessoas enquanto estava no chão. É a segurança do Carrefour, alguém gritou. Eu falei: Graças a Deus, estou salvo. Tô em casa, graças a Deus. Foi então que um pisou na minha cabeça, e já foi me batendo com um soco. Eu dizia: houve um mal entendido. Eu também sou segurança. Disseram: vamos ali no quartinho prá esclarecer. Pegaram um rádio de comunicação e deram com força na minha cabeça. Assim que entrei um deles falou: estava roubando o EcoSport e puxando moto, né? Começou aí a sessão de tortura, com cabeçadas, coronhadas e testadas", continuou.
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Sessão de torturas
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"A sessão de torturas demorou de 15 a 20 minutos. Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus, Jesus. Sangrava muito. Toda vez que falava "Meu Deus", ouvia de um deles. Cala a boca seu neguinho. Se não calar a boca eu vou te quebrar todo. Eles iam me matar de porrada", conta.
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Santana disse que eram cerca de cinco homens que se revezavam na sessão de pancadaria. "Teve um dos murros que a prótese ficou em pedaços. Eu tentava conversar. Minha criança está no carro. Minha esposa está fazendo compras, não adiantava, porque eles continuaram batendo. Não desmaiei, mas deu tontura várias vezes. Eu queria sentar, mas eles não deixavam e não paravam de bater de todo jeito".
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A certa altura Januário disse ter ouvido alguém anunciar: a Polícia chegou, sendo informada de que o caso era de um negro que tentava roubar um EcoSport. "Eles disseram que eu estava roubando o meu carro. E eu dizia: o carro é meu. Deram risada."
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A Polícia e o suspeito padrão
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A chegada da viatura com três policiais fez cessar os espancamentos, porém, não as humilhações. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa que não tem problema", comentou um dos policiais militares, enquanto os seguranças desapareciam.
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O policial não deu crédito a informação e fez um teste: "Qual é o primeiro procedimento do segurança?". Tonto, Januário, Santana disse ter respondido: "o primeiro procedimento é proteger a própria vida para poder proteger a vida de terceiros".
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Foi depois disso que conseguiu que fosse levado pelos policiais até o carro e encontrou a filha Ester, de dois anos, ainda dormindo e a mulher, a irmã e o filho, atraídos pela confusão e pelos boatos de que a loja estava sendo assaltada. "Acho que pela dor, ele se deitou no chão. Estava muito machucado, isso tudo na frente do meu filho", conta Maria dos Remédios.
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Sem socorro
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Depois de conferirem a documentação do carro, que está em nome dela, os policiais deixaram o supermercado. "Daqui a pouco vem o PS do Carrefour. Depois se quiserem deem queixa e processem o Carrefour", disse o soldado.
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Em choque e sentindo muitas dores, o funcionário da USP conseguiu se levantar e dirigir até o Hospital Universitário onde chegou com cortes profundos na boca e no nariz. "Estou sangrando até hoje. Quando bate frio, dói. Tenho medo de ficar com seqüelas", afirmou.
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A mulher disse que o EcoSport, que está sendo pago em 72 parcelas de R$ 789,00, vem sendo fonte de problemas para a família desde que foi comprado há dois anos. "Toda vez que ele sai a Polícia vem atrás de mim. Esse carro é seu? Até no serviço a Polícia já me abordaram. Meu Deus, é porque ele é preto que não pode ter um carro EcoSport?", se pergunta.
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Ainda desorientado, Santana disse que tem medo. "Eu estou com vários traumas. Se tem alguém atrás de mim, eu paro. Como se estivesse sendo perseguido. Durante a noite toda a hora acordo com pesadelo. Como é que não fazem com pessoas que fizeram alguma coisa. Acho que eles matam a pessoa batendo", concluiu.
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Fonte: Afropress

Empreendimento de mineração da Bunge é parado na justiça

Baseando-se no princípio da precaução, Juiza acata ação civil pública e suspende construção de mineradora das empresas Bunge e Yara Brasil Fertilizantes.
Reportagem: Joel Felipe Guindani
Porto Alegre (RS) – Após mobilização popular, a Justiça suspendeu nesta terça-feira (29) a licença ambiental prévia que autorizava a Indústria Fosfatos Catarinense (IFC) a iniciar o processo de instalação de uma mina de fosfato em Anitápolis, litoral do estado. A ação civil pública foi movida pela organização não-governamental (ONG) Associação Montanha Viva contra as empresas Bunge e Yara Brasil Fertilizantes, donas da IFC. As manifestações contra a construção da mineradora iniciaram no de 2005 e desde lá envolve também associações de moradores, universidades, pastorais e movimentos sociais do estado.

Baseando-se no princípio da precaução, a juíza federal Marjôrie Freiberger Ribeiro da Silva proibiu o órgão ambiental, a Fatma, de autorizar o corte de Mata Atlântica até que seja dada a sentença final da mesma ação civil pública que pede a suspensão total da instalação da mineradora na região.

De acordo com Jorge Albuquerque, da ONG Montanha Viva, a suspensão dos projetos de liberação para construção da mineradora representa um grande passo da organização popular.

“Isso foi uma grande conquista. Hoje os movimentos que se juntaram a nós é um grupo grande, bem organizado e poderoso. Continuaremos lutando porque é inaceitável um projeto desses. Como que essas empresas vão construir uma barragem de oitenta metros construída com terra batida e rejeitos em um rio onde mais de duzentas mil pessoas sobrevivem em sua margem? Isso compromete a vida de todos”, diz.

Criada em parceria entre as multinacionais Yara Brasil e Bunge Fertilizantes, a mineradora já é proprietária de 1.760 hectares em Anitápolis (SC), única região no Sul do Brasil que possui fosfato. Para a extração e processamento do minério, as empresas projetam o desmatamento de mais de 300 hectares de Mata Atlântica.

Jorge ainda explica que as mobilizações continuam em forma de assembléias e elaboração de novos estudos na região. Segundo ele, a empresa deve recorrer à ação judicial nos próximos dias.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos e não há debate público sobre isto!

O agronegócio tem sido uma das forças da nossa economia nos últimos anos. Porém, este aparente sucesso não tem impulsionado o setor para um novo patamar de qualidade e controle da produção. As iniciativas de auto-regulação (como a RTRS) têm apresentado resultados questionáveis e lentos e enquanto isso avançasse nas práticas mais insustentáveis de cultivos agrícolas. Além das constantes denúncias de trabalho forçado sendo utilizado nas lavouras, desmatamento, contaminação com transgênicos e cultivo ilegal em terras do Estado na Amazônia, um outro aspecto da insustentabilidade do setor passa pouco percebido: o excessivo uso de agrotóxicos.

No início do ano a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária - pretendia fazer a reavaliação técnica de nove agrotóxicos liberados para a comercialização no país. Este é um procedimento de praxe, os produtos são liberados inicialmente com os principais dados sendo fornecidos pelas próprias empresas e a reavaliação é feita pelos técnicos da ANVISA com base em padrões internacionais e estudos de órgãos independentes, inclusive de outros países. No entanto uma ação judicial por parte do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), associação que reúne as empresas deste setor, impediu que a agência realizasse o processo. Esta ação não teve nenhuma justificativa razoável do ponto de vista científico ou legal, representou apenas as empresas do setor defendendo seus interesses em detrimento da segurança e saúde da população e do meio ambiente.
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Agrotóxicos no seu estômago
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Na safra passada, as empresas transnacionais (Basf, Bayer, Monsanto, Du Pont, Sygenta, Bungue, Shell...), comemoraram que o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Foram despejados 713 milhões de toneladas! Média de 3.700 quilos por pessoa.
Por João Pedro Stédile
Os porta-vozes da grande propriedade e das empresas transnacionais são muito bem pagos para todos os dias defender, falar e escrever de que no Brasil não há mais problema agrário. Afinal, a grande propriedade está produzindo muito mais e tendo muito lucro. Portanto, o latifúndio não é mais problema para a sociedade brasileira. Será? Nem vou abordar a injustiça social da concentração da propriedade da terra, que faz com que apenas 2%, ou seja, 50 mil fazendeiros, sejam donos de metade de toda nossa natureza, enquanto temos 4 milhões de famílias sem direito a ela.

Vou falar das conseqüências para você que mora na cidade, da adoção do modelo agrícola do agronegócio. O agronegócio é a produção de larga escala, em monocultivo, empregando muito agrotóxicos e máquinas. Usam venenos para eliminar as outras plantas e não contratar mão de obra. Com isso, destroem a biodiversidade, alteram o clima e expulsam cada vez mais famílias de trabalhadores do interior.

Na safra passada, as empresas transnacionais, e são poucas (Basf, Bayer,Monsanto, Du Pont, Sygenta, Bungue, Shell química...), comemoraram que oBrasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas.

Foram despejados 713 milhões de toneladas! Média de 3.700 quilos por pessoa. Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo. Contaminam a água. E, sobretudo, se acumulam nos alimentos.

As lavouras que mais usam venenos são: cana, soja, arroz, milho, fumo, tomate, batata, uva, moranguinho e hortaliças. Tudo isso deixará resíduospara seu estômago. E no seu organismo afetam as células e algum dia podem se transformar em câncer.

Perguntem aos cientistas aí do Instituto Nacional do Câncer, referência depesquisa nacional, qual é a principal origem do câncer, depois do tabaco? AAnvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) denunciou que existem nomercado mais de vinte produtos agrícolas não recomendáveis para a saúdehumana. Mas ninguém avisa no rótulo, nem retira da prateleira.

Antigamente, era permitido ter na soja e no óleo de soja apenas 0,2 mg/kg de resíduo do veneno glifosato, para não afetar a saúde. De repente, a Anvisa autorizou os produtos derivados de soja terem até 10,0 mg/kg de glifosato, 50 vezes mais. Isso aconteceu certamente por pressão da Monsanto, pois o resíduo de glifosato aumentou com a soja transgênica, de sua propriedade.
Esse mesmo movimento estão fazendo agora com os derivados do milho. Depois que foi aprovado o milho transgênico, que aumenta o uso de veneno, querem aumentar a possibilidade de resíduos de 0,1 mg/kg permitido para 1,0 mg/kg.

Há muitos outros exemplos de suas conseqüências. O doutor Vanderley Pignati, pesquisador da UFMT, revelou em suas pesquisas que nos municípios que têm grande produção de soja e uso intensivo de venenos os índices de abortos e má formação de fetos são quatro vezes maiores do que a média do estado.

Nós temos defendido que é preciso valorizar a agricultura familiar, camponesa, que é a única que pode produzir sem venenos e de maneiradiversificada. O agronegócio, para ter escala e grandes lucros, só consegue produzir com venenos e expulsando os trabalhadores para a cidade.

E você paga a conta, com o aumento do êxodo rural, das favelas e com o aumento da incidência de venenos em seu alimento.

Por isso, defender a agricultura familiar e a reforma agrária, que é uma forma de produzir alimentos sadios, é uma questão nacional, de toda sociedade.

Não é mais um problema apenas dos sem-terra. E é por isso que cada vez que o MST e a Via Campesina se mobilizam contra o agronegócio, as empresas transnacionais, seus veículos de comunicação e seus parlamentares, nos atacam tanto.

Porque estão em disputa dois modelos de produção. Está em disputa a que interesses deve atender a produção agrícola: apenas o lucro ou a saúde e o bem-estar da população? Os ricos sabem disso e tratam de consumir apenas produtos orgânicos.

E você precisa se decidir. De que lado você está?
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(*) Artigo publicado originalmente no jornal O Globo
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João Pedro Stédile é economista e integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Engevix não cumpre acordo com indígenas

Engevix não cumpre acordo com índios atingidos pela UHE Monjolinho

Ontem (15/09), os índios Caigangues atingidos pela UHE de Monjolinho ficaram a espera da Empresa Engevix, para realizarem uma reunião de continuação das negociações já iniciadas. Durante a audiência pública realizada no dia 20/08, ficou acordado que essa reunião aconteceria ontem, mas, segundo os índios, a empresa não apareceu e nem deu notícias.

Entre as reivindicações dos índios estão: Posto de saúde com leitos para internação, contratação de profissionais pediátricos e ambulância equipada; Construção de casas; Construção de novos açudes e recuperação dos já existentes para criação e manejo de peixes; Ampliação do saneamento básico; Energia elétrica gratuita permanente; Reflorestamento com árvores nativas e treinamento/capacitação de pessoas da comunidade como agentes ambientais com remuneração para cuidar do reflorestamento.

Histórico e posição do Movimento dos Atingidos por Barragens

A empresa Engevix fechou as comportas da hidrelétrica antes de resolver os problemas com as famílias e a revelia da justiça, que expediu uma liminar proibindo o enchimento do lago. No dia 18 de junho, durante um protesto na barragem, a polícia gaúcha agiu com violência jogando bombas de efeito moral, ferindo manifestantes e furando pneus de dois ônibus a tiros. A ação, sem justificativas, comprovou a falta de respeito ao povo indígena. O Movimento dos Atingidos por Barragens exige que se cumpram todas as medidas compensatórias previstas no Plano Básico Ambiental Indígena.

FONTE: MAB

É engraçado que, com uma rápida pesquisa no site da empresa você consegue achar todo tipo de declaração sobre como ela é responsável:

A Engevix entende que seu sucesso empresarial deve estar pautado no desempenho nas áreas econômica, ambiental e social. Entende também que para que seu desempenho seja sempre satisfatório, deve aproximar-se de seus parceiros para entender suas necessidades e demandas e agir com transparência e responsabilidade na relação com cada um deles.

Ou ainda

(...) Tal posicionamento é reflexo de uma administração consciente de sua responsabilidade corporativa (que se preocupa com a qualidade e impacto de seu trabalho em suas interfaces com todos que com ela se relacionam).

FONTE: Engevix

O pior é que o histórico da Engevix ainda inclui outras denuncias graves como ter fraudado o Estudo de Impacto Ambiental da Usina de Barra Grande, quando omitiu a presença de uma área de 6 mil hectares de mata nativa, que continham inclusive especies ameaçadas de extinção. Este caso esta desrito no link Dossiê Barra Grande, que também esta relacionado na barra ao lado.